Quais os desafios da gestão desportiva enquanto gestor desportivo? | |||
Universidade do Porto Faculdade de Desporto Mestrado em Gestão Desportiva (2º Ciclo de Gestão Desportiva) |
Tharcísio Anchieta contato@anchietaesportes.com.br (Portugal) |
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Resumo Tenta-se nesse artigo de opinião levantar o questionamento de qual o grande desafio dos profissionais que atuam como gestores do desporto na atualidade. Tal questionamento mostra-se fundamental no momento, uma vez que o fenômeno desportivo ultrapassa todas as fronteiras e envolve-se em várias áreas das atividades humanas, assim quem vai gerir esse fenômeno deve estar muito bem preparado e ter por base alguns princípios que poderão fazer a diferença para todos aqueles que direta ou indiretamente estão pelo desporto envolvidos. Unitermos: Desporto. Gestão. Princípios. Lucro. |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 126 - Noviembre de 2008 |
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Quando me é colocada a questão de quais são os desafios da gestão desportiva para um gestor do desporto, penso em várias situações que podem ocorrer dentro dessa área e vejo como única forma de responder a essa questão destacando pontos e atitudes que passei e imagino que poderei passar. Dentro de uma formação desportiva sempre ligada ao aspecto social, penso no desporto como elemento fundamental na sociedade pelas possibilidades que o mesmo pode oferecer principalmente a crianças e jovens desde que atrelado a aspectos culturais e educacionais, retomando seu conceito da Grécia antiga, filosófico, quase que religioso, regido por princípios de ordem moral. Como gestor, mesmo consciente das necessidades de um mundo capitalista, penso ser fundamental analisar e levar em consideração o que realmente representa o fenômeno desportivo antes de tomar qualquer decisão no que concerne a gestão desportiva.
Enquanto gestor particularmente envolvido com organização e estruturação da profissão na área desportiva, entendo ser de fundamental importância manter em evidência a concepção humanística do desporto. A formação do profissional de educação física, aqui entendido como um profissional do desporto, precisa ter bem clara a valorização dos aspectos morais e educacionais que envolvem o desporto. Muito por isso um dos elementos norteadores do órgão que regula e fiscaliza a profissão no Brasil é o código de ética profissional, que explicita em seu texto entre outras coisas o respeito à vida, à dignidade, à integridade e aos direitos do indivíduo além da responsabilidade social, ausência de discriminação ou preconceito de qualquer natureza e o respeito à ética nas diversas atividades profissionais.
Todo gestor desportivo deve levar em consideração questões que relacionam o desporto as mais variadas manifestações da sociedade e a importância que ele passa a ter no momento em que mesmo sem ser o causador de alguns movimentos sociais, pode ser o maior incentivador ou divulgador deles.
Nesta visão do desporto como meio de educação, desenvolvimento e inclusão social reportar-se a sociologia do desporto, que visa explicar o contexto do desporto com sua estrutura nos diferentes tipos de sociedade, as múltiplas maneiras como o mesmo depende e é influenciado por todos os sistemas de valores de cada cultura e pela realidade sócio-estrutural onde se encontra, enfim a sociologia do desporto trata da influência do desporto no indivíduo, na família, trabalho, política, sistema educacional e na ordem social em geral.
De acordo com Pitts e Stotlar (2002, p. 88) “Sociologia do Esporte é o estudo das relações entre seres humanos e esporte e entre esporte e sociedade”, portanto é ela que identifica o esporte realmente como um fato social e afirma que o mesmo influência e é influenciado pela cultura social do meio onde está inserido.
Assim cabe ao gestor desportivo onde quer que esteja nunca abandonar o pensamento de qual é o princípio do desporto e obedecer sempre aos seus limites éticos. Cabe ao gestor desportivo se cercar de responsabilidade, pois ele trata com um elemento tão importante que é garantido como direito de todos na declaração universal dos seres humanos e por seu alcance global atrai todos os tipos de interesses.
É um enorme desafio manter essa linha de conduta em um momento em que a espetacularização do desporto é a tendência cada vez mais crescente já que a indústria do desporto se utiliza do mesmo para seus interesses e para o lucro muitas vezes a qualquer custo. Deve-se entender também que o desporto em tempos atuais passou a ter importante papel na economia global uma vez que os avanços tecnológicos abriram mais espaços para os tempos livres e conseqüentemente as práticas de atividades desportivas por lazer, assim como desenvolvimento de novos materiais para a prática e com isso estreitamento das relações com as grandes corporações comerciais.
O gestor desportivo deve entender o fenômeno que tem em mãos para trabalhar e levar para dentro do desporto elementos fundamentais para o seu melhor desenvolvimento, tais como o marketing, planejamento estratégico, gestão de pessoas, gestão de projetos, gestão financeira, isso sempre agregado ao sentido principal do desporto que é satisfazer a pessoa humana. Colocar os elementos da lógica econômica a serviço do desporto e manter o mesmo a serviço do homem e nunca inverter esses valores.
Lembrar que nem tudo vale dentro do desporto e isso talvez seja intimamente uma das coisas que façam com que o mesmo desperte tanto interesse no mundo todo. Cabe ao gestor mostrar a indústria em geral, que aquele que muitas vezes é o melhor caminho na lógica empresarial não é o melhor caminho na lógica desportiva e justamente isso é um dos diferenciais competitivos do desporto. Saber identificar enquanto dirigente de um clube de futebol por exemplo, que a atividade fim deste, e mais importante de todas, é conquistar vitórias nos jogos e não conquistar apenas vitórias financeiras.
O maior desafio ao gestor desportivo é conseguir manter-se em um mundo desportivo que hoje, é uma indústria que movimenta bilhões de euros anuais, sem deixar de lado o aspecto ético dentro do desporto. O gestor desportivo defronta-se com situações problemas onde o interesse comercial poderá conflitar com os princípios básicos do desporto ou por vezes com aspectos tradicionais que cercam o desporto, o gestor deve posicionar-se de forma técnica, racional, de acordo com os fundamentos da gestão, no entanto levando sempre em consideração também as particularidades do desporto a paixão que o envolve e o real objetivo da empresa ou instituição que gerencia no meio desportivo.
Com esses pontos colocados, penso que a reflexão sobre os desafios do gestor desportivo e o significado da essência do desporto, é extremamente importante e deve ser sempre um norteador das ações desse profissional visto que, não por acaso, a formação de um mestre em gestão desportiva tem como ponto de partida a disciplina desporto e cultura, que tem uma abordagem muito interessante e faz com que pensemos profundamente nos valores do desporto e conseqüentemente nas particularidades de sua gestão.
É muito interessante identificar que Portugal, um país populacionalmente bem menor que o Brasil já tenha atentado para a necessidade de capacitar academicamente o profissional do desporto das valências fundamentais para que o mesmo seja sujeito atuante do processo de gestão do desporto, vide os cursos de graduação e pós graduação em gestão desportiva portugueses que ainda são muito escassos no Brasil. Por outro lado o Brasil desenvolveu a organização legal da profissão, tendo o seu conselho profissional de educação física, o qual da bastante ênfase o fato de ser prerrogativa do profissional de educação física a gestão do desporto, este é um órgão muito importante e que ainda se faz necessário em Portugal.
O desporto como todas as áreas de atividades do homem está em constante mutação e desenvolvimento, a globalização, a tecnologia são realidades infalíveis, os gestores do desporto tem a missão de fazer com que o mesmo sobreviva a essa nova realidade, aproveitando-se de seus benefícios sem perder a sua essencia, seus valores e seus princípios, fazendo com que o desporto seja sempre desporto em qualquer lugar, manifestando-se de suas variadas formas, seja para todos, seja para altas competições, daí a necessidade dos planejamentos, as políticas públicas para o desporto, o desenvolvimento de suas estruturas físicas, organizacionais e conceituais, esse é o grande desafio do gestor desportivo atual.
Referências
Carreiro, E.A. (coord). Gestão da educação física e esporte. Rio de janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 2007.
Constantino, J.M. (coord). O desporto no século XXI, os novos desafios. Ed. Câmara Municipal de Oeiras.
Fonseca, R. Marxismo e globalização. Porto: Ed. Campo das letras, 2002.
Oliveira, A.R; Moreira, M.A. Aspectos históricos-sociais da educação física. Manaus: Ed. Valer, 2008.
Tubino, F.M.; Garrido, F.A.C.; Tubino, M.J.G. Diconário enciclopédico Tubino do esporte. Rio de janeiro: Ed. Senac, 2007.
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